PIX em supermercado português

Imagine caminhar por um supermercado em Braga, Portugal, e se deparar com a seguinte placa: “Aqui, você já pode pagar com o seu PIX do Brasil!”. Parece cena de ficção? Não mais. A imagem viralizou nas redes sociais nesta semana e arrancou risadas com comentários irônicos como “Incrível, a recolonização” e “Estamos civilizando a galera no digital”. Mas o fato é: o PIX brasileiro agora também é uma forma de pagamento aceita em solo europeu.

A tecnologia atravessou o Atlântico

O aviso inusitado foi encontrado em uma loja da rede Continente, uma das maiores de Portugal. O sistema já está ativo em seis unidades no norte do país, incluindo Braga, cidade com forte presença da comunidade brasileira. O processo é simples e intuitivo: o cliente escaneia um QR Code com o app do banco brasileiro, confere o valor (em reais, já com câmbio e IOF de 0,38%) e finaliza a compra com a mesma agilidade que faria em São Paulo ou Salvador.

Esse avanço só foi possível graças a uma parceria oficializada em janeiro de 2025 entre a UNICRE (instituição financeira portuguesa) e o Braza Bank, banco de câmbio brasileiro com presença no país europeu. O objetivo? Facilitar a vida de uma população crescente: turistas e imigrantes brasileiros.

“A intensa imigração vinda do Brasil na última década, aliada aos mais de um milhão de brasileiros que visitam o nosso país anualmente, levou a UNICRE a estabelecer uma parceria com o Braza Bank, o maior banco cambial do Brasil. O objetivo é massificar o uso do PIX em Portugal”, declarou a UNICRE em nota oficial.

Um passo simbólico (e geopolítico)

Mais do que uma simples inovação tecnológica, o PIX em Portugal é um símbolo poderoso. Durante séculos, Portugal ditou as regras para o Brasil. Hoje, é o sistema de pagamentos brasileiro que começa a ganhar espaço nas transações lusitanas. Recolonização? Não exatamente. Mas a ironia histórica está posta — e não passou despercebida nas redes.

Se antes o Brasil era o país do atraso e da burocracia financeira, agora exporta um sistema de pagamentos que é referência global. Instantâneo, gratuito, intuitivo e seguro, o PIX é gerido pelo Banco Central do Brasil e já está transformando a forma como o dinheiro circula — inclusive fora do país.

PIX x MB WAY: quem é quem?

Portugal, por sua vez, já contava com o MB WAY, serviço digital criado em 2014 pela empresa privada SIBS. Ele também permite transferências, saques e pagamentos, mas é atrelado ao número de telefone e depende de um aplicativo específico. Enquanto isso, o PIX é público, universal e vinculado diretamente à conta bancária, funcionando de forma integrada e aberta, sem app exclusivo.

Abaixo, um comparativo rápido:

PIX (Brasil)MB WAY (Portugal)
Sistema público e universalPlataforma privada (SIBS)
Gerido pelo Banco CentralVinculado ao número de telefone
Transferências instantâneasExige app específico
Usa chaves como CPF, e-mailLigado ao cartão bancário
Substitui TED, DOC e boletoFoco em pagamentos e saques

O que vem a seguir?

Se supermercados já aceitam o PIX, não deve demorar até que restaurantes, farmácias, hotéis e até pequenos comércios entrem na onda. A expansão deve seguir o rastro da comunidade brasileira, cada vez mais numerosa e economicamente ativa em Portugal.

E, no fim das contas, é isso que torna o momento tão interessante: o Brasil, frequentemente na posição de receptor, exporta agora uma inovação que simplifica a vida — com bom humor e um toque de revanche histórica. Porque, se um dia o pau-brasil cruzou o oceano, agora é a vez do QR Code.